quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Igreja e a Pregação Expositiva




Author Robério O. B. Azevedo Category Pregação Expositiva



Dentre as grandes crises que a igreja cristã contemporânea enfrenta talvez a mais séria esteja relacionada aos púlpitos das igrejas. Há uma grande multidão de famintos que freqüentam regularmente muitas igrejas, mas simplesmente não são saciados com a genuína Palavra de Deus pregada nos sermões semanais. De fato, muitos crentes verdadeiros têm demonstrado uma grande insatisfação com os pregadores modernos. Porém, apenas esse sentimento de insatisfação não é o suficiente. Uma igreja precisa orar e exigir que seus pastores ocupem seu tempo com o estudo, meditação, oração e preparação de sermões expositivos.

Mas, que tipo de pregação é essa, por que é tão importante, e, principalmente, que benefícios ela produz na igreja? Poderíamos definir como pregação expositiva aquela cujo objetivo é expor as verdades de Deus ensinadas em um texto específico da Bíblia e cujo tema, idéias principais, argumentação e aplicações são extraídas do próprio texto lido. Ou seja, ao invés de levar para um texto suas idéias, o pregador expõe fielmente o que o texto disse (primeira geração de ouvintes a quem o texto se dirigiu) e diz ao povo de Deus hoje.

Nesse tipo de pregação algumas características naturalmente serão evidenciadas. Primeiro, ela é essencialmente doutrinária, pois ainda que se baseie em um texto (ou textos!) utiliza outros textos da Bíblia para dar suporte à argumentação. Segundo, ela é cristológica, uma vez que o alvo da pregação é falar de Cristo, com Cristo e por Cristo. Jesus será o alvo da pregação, pois Ele é o “Autor e consumador da fé” (Hb 12:2) e o propósito de Deus é, através da pregação, nos tornar mais parecidos com Seu filho, Jesus Cristo. Terceiro, o pregador fala com autoridade, pois como embaixador divino não faz apenas um comentário do texto bíblico, ou simplesmente usa o texto como pretexto para dizer o que pensa, mas, diferentemente, expõe com fidelidade e autoridade a Bíblia para o povo de Deus. Ele compreende que quando a Palavra de Deus é pregada com fidelidade, Deus mesmo está falando ao seu povo, quer seja consolando-o, exortando-o, ensinando-o, ou educando-o na educação da Justiça (2Tm 3:16-17). Por último, ela é claramente experimental, pois não apenas o pregador busca em humildade viver o que prega, mas sabe que sua pregação será somente eficaz se os seus ouvintes forem afetados de forma prática pelas verdades ensinadas. Assim, diferente de uma homilia, sua pregação terá um caráter aplicatório, tanto para crentes como descrentes que o ouvem.

Obviamente esse tipo de pregação é importante porque a Palavra de Deus está sendo trazida com fidelidade a igreja. Por um lado, o pregador esconde-se atrás das Escrituras e decide nunca sair de lá durante seu ministério. Ele sabe que a pregação é nada mais, nada menos, do que a viva voz de Deus (viva vox Dei), e em lugar de entreter o público com estórias e piadas, o pregador sabe que seu papel não é pregar o que é popular, ou o que agrada ao povo, mas o que Deus ordena nas Escrituras. O grande imperativo bíblico, “Prega a palavra!” (2 Tm 4:2), reverbera em seu coração todas as vezes que ele se senta para preparar um sermão. Por outro lado, a igreja entende que a palavra pregada expositivamente é o único poder capaz de mudar vidas, uma vez que Deus mesmo está falando ao coração do seu povo e convertendo os ímpios através desse tipo de pregação. Os membros de uma igreja saudável se recusarão a comer palha, e o critério fundamental na escolha dos seus líderes será o de homens que manejam bem a palavra da verdade. Pois, se crêem que a Bíblia é a Palavra de Deus, estarão ansiosos para ouvi-la e dar-lhe a devida atenção.

Um resultado claro dessa centralidade da Palavra de Deus na igreja, sobretudo no púlpito, será o de produzir, em primeiro lugar, uma reavaliação do que significa ser uma “igreja saudável”. Igrejas enfermas são caracterizas por membresias onde a Palavra de Deus ocupa um lugar distante na vida e no culto dos seus membros. Por outro lado, a Bíblia é tida em alto estima em igrejas saudáveis, porque não somente lhes apresenta no que devem crer, mas, mais importante, em como devem crer. Doutrina e prática não serão duas realidades distantes, mas realidades inseparáveis na vida dos membros. Além disso, a pregação expositiva fornecerá o remédio certo para corrigir cada problema surgido no meio da igreja. Os membros apenas descobrirão a natureza, essência e características da verdadeira igreja e vida cristã através das próprias Escrituras. Igrejas enfermas, onde a pregação expositiva não é central, podem até ter aparência de igreja saudável, mas logo os sintomas da enfermidade se manifestarão (partidarismo, divisões, falta de testemunho de seus membros, etc.). De fato, igrejas enfermas podem até causar poucos problemas aos cristãos mais saudáveis que buscam um conhecimento bíblico por conta própria, mas causam um prejuízo terrível no crescimento e amadurecimento dos crentes mais novos e fracos. Pois, como pode haver crescimento, sem alimento? Como Lutero advertia seus ouvintes: “é dever dos pregadores e ouvintes, em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, atentar e ter plena certeza que sua doutrina vem realmente da verdadeira Palavra de Deus.”



Robério Odair Basílio de Azevedo

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