terça-feira, 2 de novembro de 2010

A REFORMA PROTESTANTE: HISTÓRIA E RELEVÂNCIA DOS SOLAS - 1ª PARTE


Palestra ministrada na Igreja Presbiteriana Filadélfia (Marabá-PA)

• INTRODUÇÃO
Meus amados e queridos irmãos, no dia 31 do presente mês a Reforma Protestante completará a extraordinária idade de 493 anos. Talvez você possa se perguntar: “O quê que eu tenho a ver com isso?” Pois bem, eu respondo a você que: TUDO! Visto que você só se encontra hoje na Igreja Presbiteriana do Brasil, porque, no passado, Deus usou um homem para dar início a esse empreendimento tão fantástico.

O que é interessante é que a partir do momento em que a Reforma estourou, os adeptos desse movimento passaram a ser conhecidos como “os Protestantes”. Por exemplo, o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, define o termo protestante como, “1. Que protesta; 2. Relativo ao, ou próprio do protestantismo; 3. Diz-se de membros de igrejas[sic] não-católicas”. Como tal, o termo define bem aqueles que tomaram parte no protesto encabeçado por Martinho Lutero. O que nós temos a ver com a Reforma Protestante? Nós somos protestantes.

O lamentável, é que vivemos uma época em que isso tem sido esquecido, ou pelo menos eclipsado por pessoas que estão no seio da igreja evangélica, mas que consideram esse evento como apenas um detalhe que ficou num passado bem distante. Infelizmente, não enxergam na Reforma princípios bíblicos que são imprescindíveis para a nossa saúde espiritual. Existem pessoas que acham que a verdade é uma espécie de elemento mutável, ou seja, ela muda com o passar dos anos e dos séculos. Isso quer dizer que, existem indivíduos desagregadores dentro de nossas igrejas que pensam que o que foi verdade na época em que a Reforma estourou não é verdade hoje. Por conseguinte, não precisa ser investigada hoje, muito menos estabelecida como corpo de verdades de nossa igreja.

Nós somos jovens, e num sentido bem específico, somos o futuro da Igreja Protestante. Aqui se encontram (assim eu espero), futuros líderes da Igreja Protestante de um modo geral, e futuros líderes da Igreja Presbiteriana Filadélfia. Assim sendo, considero como de extrema importância que vocês, meus amados irmãos, tão bombardeados pela nossa sociedade, vocês que são os principais alvos do inimigo na tentativa de minar a vitalidade espiritual de nossa igreja, vocês precisam conhecer o que motivou a Reforma e os seus princípios, para enxergar neles, princípios úteis para a nossa época moribunda e decadente.

ELUCIDAÇÃO HISTÓRICA
A primeira coisa que precisamos compreender é: POR QUE ACONTECEU A REFORMA? O QUE MOTIVOU A REFORMA PROTESTANTE? A resposta a essa pergunta não é fácil. Ela exigiria uma análise histórica que remontasse há muitos anos antes, pelo menos até aos séculos XIV e XV, com os homens que são considerados como os “pré-reformadores”, que são eles: o inglês John Wycliff, que atacou as irregularidades do clero da igreja medieval, as superstições, o purgatório, o celibato clerical, e a autoridade papal. O outro foi o sacerdote e professor da Universidade de Praga, o boêmio John Huss, que atacou a autoridade papal. Ambos foram perseguidos e excomungados pela igreja católica romana. John Huss foi assassinado em uma fogueira, enquanto Wycliff teve os seus ossos exumados e jogados fora.

É interessante, meus amados irmãos, como um único evento na história do Cristianismo recebe interpretações tão diversas como a Reforma Protestante do século XVI. Por exemplo, historiadores protestantes interpretam a Reforma amplamente como um movimento religioso que procurou redescobrir a pureza do cristianismo primitivo como ele é descrito no Novo Testamento. Esta interpretação tende a ignorar os fatores econômicos, políticos e intelectuais que ajudaram a promover a Reforma. Segundo esta interpretação, a Providência divina é o fator primordial e precede todos os outros fatores.

Já os historiadores católicos romanos interpretam a Reforma como uma heresia inspirada por Martinho Lutero por causa de várias razões, entre as quais a vontade de se casar. O protestantismo é visto como um cisma herético que destruiu a unidade teológica e eclesiástica da igreja católica medieval. De acordo com esse ponto de vista católico, Lutero foi um herege, mas esses historiadores geralmente se esquecem de que a igreja medieval já tinha se afastado do ideal do Novo Testamento, ou seja, ela já havia se tornado herege. É certo que, existiram causas econômicas, sociais, políticas, intelectuais e morais envolvidas. No entanto, temos como pressuposto que a Reforma foi um movimento que aconteceu como uma ação de Deus, em trazer a sua Igreja de volta à pureza que ela havia perdido com o passar do tempo. Os reformadores estavam interessados em desenvolver uma teologia que estivesse em completa concordância com o Novo Testamento; eles criam que isto seria possível a partir do instante em que a Bíblia se tornasse a autoridade final da igreja.

Agora, passemos aos eventos que culminaram na Reforma Protestante, propriamente dita.

Martinho Lutero nasceu no ano de 1483. Ele era filho de um latifundiário de minas. A vontade do pai de Lutero era que o seu filho estudasse direito e se tornasse advogado. Entretanto, após sobreviver a uma grande tempestade, Lutero fez uma promessa a Santa Ana que se tornaria monge. Em 1507, ele foi ordenado monge e celebrou sua primeira missa.

Lutero era um homem profundamente angustiado por causa da sua alma. Ele tornou-se um importante professor de teologia na Universidade de Wittenberg. Os seus estudos só fizeram aguçar a sua luta interior. Ele não entendia como Deus poderia se relacionar com pecadores, visto que a justiça de Deus era entendida por ele apenas em sentido punitivo. A idéia da justiça de Deus atormentava Lutero. Foi então que, no ano de 1517, quando estava dando aulas sobre a Epístola de Paulo aos Romanos, mais precisamente quando leu o verso 17 do capítulo 1, que Lutero se convenceu de que somente pela fé em Cristo era possível alguém se tornar justo aos olhos de Deus. Esse princípio, posteriormente, foi desenvolvido e se apresentou como a famosa doutrina da Justificação pela Fé. Além disso, ele passou a entender que apenas a Bíblia, apenas a Escritura era a autoridade única para o crente.

Isso é importante por causa dos acontecimentos posteriores. Em 1517, um monge dominicano, chamado John Tetzel, começou a vender indulgências na cidade de Jüterborg, próximo a Wittenberg. Lutero se revoltou contra a exploração do povo pelo sistema de venda das indulgências, e decidiu fazer um protesto público. Tetzel ensinava que o arrependimento não era necessário para quem comprasse uma indulgência, por si mesma capaz de dar perdão completo de todo pecado.

No dia 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg. Nelas, ele condenava os abusos do sistema das indulgências e desafiava a todos para um debate sobre um assunto. O interessante, meus amados irmãos, é que Lutero confiava que receberia o apoio do papa pelo fato de revelar os males do tráfico das indulgências. Quem lê as 95 Teses pode perceber que Lutero critica apenas a venda das indulgências com a intenção de reformá-lo. Por exemplo, a Tese nº 1, diz o seguinte: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos..., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento”. A Tese nº 5 também é muito interessante: “O papa não tem o desejo nem o poder de perdoar quaisquer penas, exceto aquelas que ele impôs por sua própria vontade ou segundo a vontade dos cânones”. Inicialmente, não era intenção de Lutero se separar da igreja católica romana. Mas, entre 1518 e 1521, ele foi forçado a admitir que a separação do romanismo era a única alternativa para se chegar a uma reforma que honrasse a Deus e levasse a Igreja para mais perto do ideal do Novo Testamento. Infelizmente, são poucos que conhecem as 95 Teses de Lutero. A grande maioria não conhece nenhuma delas. E como disse certa vez o pastor suíço Karl Barth, “uma igreja que não conhece a sua história é uma igreja alienada”. Na verdade, é como uma pessoa que não conhece os seus verdadeiros pais. Ela não sabe de onde vem, e fica sem referenciais para ir adiante.

Não é meu propósito falar acerca de todos os acontecimentos envolvidos na Reforma Protestante do século XVI. Isso requereria muito mais tempo do que dispomos. Precisaria de muito tempo pra falar sobre toda a contribuição de Lutero na Alemanha, de Calvino na França e na Suíça, de Zuínglio na Suíça, de John Knox, fundador do presbiterianismo, na Escócia. Mas não farei isso. Nesta noite, eu gostaria de iniciar pra vocês, meus amados jovens em Cristo, a exposição de uma parte do legado que a Reforma Protestante nos deixou. Em 493 anos, esses princípios, solidamente embasados na Bíblia, são reconhecidos como verdadeiros tesouros, os quais a Igreja do Senhor deve amar e defender contra qualquer investida do inimigo. Quero iniciar hoje a exposição dos Cinco Solas da Reforma: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus Christus, e Soli Deo Gloria.
Alan Renê

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