Palestra ministrada na Igreja Presbiteriana Filadélfia (Marabá-PA)• INTRODUÇÃO
Meus amados e queridos irmãos, no dia 31 do presente mês a Reforma Protestante completará a extraordinária idade de 493 anos. Talvez você possa se perguntar: “O quê que eu tenho a ver com isso?” Pois bem, eu respondo a você que: TUDO! Visto que você só se encontra hoje na Igreja Presbiteriana do Brasil, porque, no passado, Deus usou um homem para dar início a esse empreendimento tão fantástico.
O que é interessante é que a partir do momento em que a Reforma estourou, os adeptos desse movimento passaram a ser conhecidos como “os Protestantes”. Por exemplo, o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, define o termo protestante como, “1. Que protesta; 2. Relativo ao, ou próprio do protestantismo; 3. Diz-se de membros de igrejas[sic] não-católicas”. Como tal, o termo define bem aqueles que tomaram parte no protesto encabeçado por Martinho Lutero. O que nós temos a ver com a Reforma Protestante? Nós somos protestantes.
O  lamentável, é que vivemos uma época em que isso tem sido esquecido, ou  pelo menos eclipsado por pessoas que estão no seio da igreja evangélica,  mas que consideram esse evento como apenas um detalhe que ficou num  passado bem distante. Infelizmente, não enxergam na Reforma princípios  bíblicos que são imprescindíveis para a nossa saúde espiritual. Existem  pessoas que acham que a verdade é uma espécie de elemento mutável, ou  seja, ela muda com o passar dos anos e dos séculos. Isso quer dizer que,  existem indivíduos desagregadores dentro de nossas igrejas que pensam  que o que foi verdade na época em que a Reforma estourou não é verdade  hoje. Por conseguinte, não precisa ser investigada hoje, muito menos  estabelecida como corpo de verdades de nossa igreja.
Nós somos jovens, e num sentido bem específico, somos o futuro da Igreja Protestante. Aqui se encontram (assim eu espero), futuros líderes da Igreja Protestante de um modo geral, e futuros líderes da Igreja Presbiteriana Filadélfia. Assim sendo, considero como de extrema importância que vocês, meus amados irmãos, tão bombardeados pela nossa sociedade, vocês que são os principais alvos do inimigo na tentativa de minar a vitalidade espiritual de nossa igreja, vocês precisam conhecer o que motivou a Reforma e os seus princípios, para enxergar neles, princípios úteis para a nossa época moribunda e decadente.
• ELUCIDAÇÃO HISTÓRICA
A primeira coisa que precisamos compreender é: POR QUE ACONTECEU A REFORMA? O QUE MOTIVOU A REFORMA PROTESTANTE? A resposta a essa pergunta não é fácil. Ela exigiria uma análise histórica que remontasse há muitos anos antes, pelo menos até aos séculos XIV e XV, com os homens que são considerados como os “pré-reformadores”, que são eles: o inglês John Wycliff, que atacou as irregularidades do clero da igreja medieval, as superstições, o purgatório, o celibato clerical, e a autoridade papal. O outro foi o sacerdote e professor da Universidade de Praga, o boêmio John Huss, que atacou a autoridade papal. Ambos foram perseguidos e excomungados pela igreja católica romana. John Huss foi assassinado em uma fogueira, enquanto Wycliff teve os seus ossos exumados e jogados fora.
É  interessante, meus amados irmãos, como um único evento na história do  Cristianismo recebe interpretações tão diversas como a Reforma  Protestante do século XVI. Por exemplo, historiadores protestantes  interpretam a Reforma amplamente como um movimento religioso que  procurou redescobrir a pureza do cristianismo primitivo como ele é  descrito no Novo Testamento. Esta interpretação tende a ignorar os  fatores econômicos, políticos e intelectuais que ajudaram a promover a  Reforma. Segundo esta interpretação, a Providência divina é o fator  primordial e precede todos os outros fatores.
Já  os historiadores católicos romanos interpretam a Reforma como uma  heresia inspirada por Martinho Lutero por causa de várias razões, entre  as quais a vontade de se casar. O protestantismo é visto como um cisma  herético que destruiu a unidade teológica e eclesiástica da igreja  católica medieval. De acordo com esse ponto de vista católico, Lutero  foi um herege, mas esses historiadores geralmente se esquecem de que a  igreja medieval já tinha se afastado do ideal do Novo Testamento, ou  seja, ela já havia se tornado herege. É certo que, existiram causas  econômicas, sociais, políticas, intelectuais e morais envolvidas. No  entanto, temos como pressuposto que a Reforma foi um movimento que  aconteceu como uma ação de Deus, em trazer a sua Igreja de volta à  pureza que ela havia perdido com o passar do tempo. Os reformadores  estavam interessados em desenvolver uma teologia que estivesse em  completa concordância com o Novo Testamento; eles criam que isto seria  possível a partir do instante em que a Bíblia se tornasse a autoridade  final da igreja.
Agora, passemos aos eventos que culminaram na Reforma Protestante, propriamente dita.
Martinho  Lutero nasceu no ano de 1483. Ele era filho de um latifundiário de  minas. A vontade do pai de Lutero era que o seu filho estudasse direito e  se tornasse advogado. Entretanto, após sobreviver a uma grande  tempestade, Lutero fez uma promessa a Santa Ana que se tornaria monge.  Em 1507, ele foi ordenado monge e celebrou sua primeira missa.
Lutero  era um homem profundamente angustiado por causa da sua alma. Ele  tornou-se um importante professor de teologia na Universidade de  Wittenberg. Os seus estudos só fizeram aguçar a sua luta interior. Ele  não entendia como Deus poderia se relacionar com pecadores, visto que a  justiça de Deus era entendida por ele apenas em sentido punitivo. A  idéia da justiça de Deus atormentava Lutero. Foi então que, no ano de  1517, quando estava dando aulas sobre a Epístola de Paulo aos Romanos,  mais precisamente quando leu o verso 17 do capítulo 1, que Lutero se  convenceu de que somente pela fé em Cristo era possível alguém se tornar  justo aos olhos de Deus. Esse princípio, posteriormente, foi  desenvolvido e se apresentou como a famosa doutrina da Justificação pela  Fé. Além disso, ele passou a entender que apenas a Bíblia, apenas a  Escritura era a autoridade única para o crente.
Isso é importante por causa dos acontecimentos posteriores. Em 1517, um monge dominicano, chamado John Tetzel, começou a vender indulgências na cidade de Jüterborg, próximo a Wittenberg. Lutero se revoltou contra a exploração do povo pelo sistema de venda das indulgências, e decidiu fazer um protesto público. Tetzel ensinava que o arrependimento não era necessário para quem comprasse uma indulgência, por si mesma capaz de dar perdão completo de todo pecado.
No  dia 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas 95 Teses na porta da  Catedral de Wittenberg. Nelas, ele condenava os abusos do sistema das  indulgências e desafiava a todos para um debate sobre um assunto. O  interessante, meus amados irmãos, é que Lutero confiava que receberia o  apoio do papa pelo fato de revelar os males do tráfico das indulgências.  Quem lê as 95 Teses pode perceber que Lutero critica apenas a venda das  indulgências com a intenção de reformá-lo. Por exemplo, a Tese nº 1,  diz o seguinte: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo:  Arrependei-vos..., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na  terra seja contínuo arrependimento”. A Tese nº 5 também é muito  interessante: “O papa não tem o desejo nem o poder de perdoar quaisquer  penas, exceto aquelas que ele impôs por sua própria vontade ou segundo a  vontade dos cânones”. Inicialmente, não era intenção de Lutero se  separar da igreja católica romana. Mas, entre 1518 e 1521, ele foi  forçado a admitir que a separação do romanismo era a única alternativa  para se chegar a uma reforma que honrasse a Deus e levasse a Igreja para  mais perto do ideal do Novo Testamento. Infelizmente, são poucos que  conhecem as 95 Teses de Lutero. A grande maioria não conhece nenhuma  delas. E como disse certa vez o pastor suíço Karl Barth, “uma igreja que  não conhece a sua história é uma igreja alienada”. Na verdade, é como  uma pessoa que não conhece os seus verdadeiros pais. Ela não sabe de  onde vem, e fica sem referenciais para ir adiante.
Não  é meu propósito falar acerca de todos os acontecimentos envolvidos na  Reforma Protestante do século XVI. Isso requereria muito mais tempo do  que dispomos. Precisaria de muito tempo pra falar sobre toda a  contribuição de Lutero na Alemanha, de Calvino na França e na Suíça, de  Zuínglio na Suíça, de John Knox, fundador do presbiterianismo, na  Escócia. Mas não farei isso. Nesta noite, eu gostaria de iniciar pra  vocês, meus amados jovens em Cristo, a exposição de uma parte do legado  que a Reforma Protestante nos deixou. Em 493 anos, esses princípios,  solidamente embasados na Bíblia, são reconhecidos como verdadeiros  tesouros, os quais a Igreja do Senhor deve amar e defender contra  qualquer investida do inimigo. Quero iniciar hoje a exposição dos Cinco  Solas da Reforma: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus Christus, e Soli Deo Gloria.
Alan Renê
  Alan Renê

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